sexta-feira, 20 de abril de 2012

Nada mais que lembranças...


Meu quarto estava inundado pela escuridão dessa madrugada tão fria. Revirei, virei, desdobrei em minha cama umas trocentas vezes, tentando achar um lugar nela que me traria calma, mas foi em vão. Procurei pelo meu maço de cigarro que estava em cima da cabeceira e fui atrás de uma xícara de café - um vício incessante -  sentei na poltrona que ficava ao lado da janela, traguei meu cigarro e caí em profundo desvaneio. Lembrando daquela tarde de outono, que acabara com todo aquele sentimento que ainda restava em mim […] 

- Não cansas de ser tão fria Joana? Parece que pouco se importa com o que estou passando. - Seus olhos azuis eram penetrantes, sempre tivera uma força no olhar. Principalmente quando eu o zangava 

- Sabes o jeito que sou. Não gosto de me envolver. Me conheceste assim oras, porque reclamas agora? - Falei me desviando daquelas duas esferas azul caribe.

- Achas que eu não tenho o direito de reclamar? Achas que eu não mereço mais de você? Joana, tu conheces aquilo que me amedronta, nunca te escondi nada.. Me conheces do jeito que eu sou. - Agora seus olhos encaravam os meus com intensidade, queria desviá-los, olhar para o lado, mas já era tarde demais, eles já haviam me hipnotizados (…)

Meu cigarro se desfez em minha mão, queimando um de meus dedos. Somente assim para me fazer despertar dessa lembrança que só corroía meu peito. Minhas lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto e agora eu só enxergava um borrão em minha frente, nada mais fazia sentido algum, nem mesmo este meu café frio apoiado em minhas pernas. Dei uma olhada pelo meu quarto e me surpreendia com as coisas que nele estavam espalhadas. Ali, no canto direito de minha cama, toda amarrotada, estava a sua camisa. Aquela que eu usara no dia três de Janeiro (…)

- Não podemos mais ficar confinados neste quarto meu bem. - Minha voz foi abafada pelo som de seu coração, seu peito estava quente.

- E por que não? Gosto daqui. De passar o dia, virar a noite, chegar a madrugada. Gosto do seu corpo nu junto ao meu, de nossas carícias. Este fim de semana está sendo perfeito. - Ele respondeu num tom de zombaria, mas sabia que ele estava levando a sério. Então eu ri. - A propósito, gosto dessa tua risada. 

- Este fim de semana é de longe o melhor de toda a minha vida. Mas entenda que temos uma vida lá fora. - Disse levantando-me e vestindo tua camisa branca com listras verdes claras. 

- Está camisa fica melhor em você do que em mim. Te deixa sexy. - Eu sorri e ele me puxou novamente para teus braços (…).

Estava respirando com dificuldade, sentia meu peito inchar e chiar de segundo em segundo. Peguei mais um cigarro e notei que este era o último. Droga, pensei. Dei um bom gole no meu café frio, acendi meu cigarro e atravessei meu quarto para me martirizar mais ainda. Sentei em minha cama, peguei sua camisa que estava toda surrada e me embrulhei nela como se esta fosse seus braços. Minha garganta se fechou na mesma hora, criou um nó que nem eu mesma conseguia desatar. Cheirei seu colarinho mas teu cheiro já havia ido embora. Não, não, não. Teu cheiro deveria estar aqui, você é quem deveria estar me envolvendo e não esta tua camisa amarrotada. Resmunguei aos choros.

Sinto a sua falta meu amor. Sinto falta de quando você me irritava ou bagunçava meu cabelo, de quando ficávamos abraçados em minha cama e ficava mordiscando minha orelha(…) Sinto falta dos teus carinhos, de sua risada tímida. Me desculpe por não ter sido perfeita para você, por não ter ficado ao seu lado quando você precisou de mim. Tento me esquivar todos os dias daquela nossa tarde de outono, não quero me lembrar o quão estúpida eu havia sido. Eu apenas… Apenas… Queria uma última chance para ver teus lindos olhos azuis novamente (…).

- Senhorita Fortunatto? - Na mesma noite daquela tarde de outono, fui acordada por um policial, exatamente as duas da manhã, não queria me levantar, mas ele insistia em tocar a campanhia e então fui recebê-lo. 

- Eu mesma. - Disse sonolenta - O que desejas? - Demorei um pouco para perceber que um policial estava em minha porta.

- Me desculpe pelas circunstâncias senhorita, mas por acaso conheces algum Lucas Bertozzi?

- Sim. - respondi apreensiva.

- Então preciso que me acompanhes. Sinto-lhe informar mas o Lucas acabou de sofrer um acidente, infelizmente ele não sobreviveu ao impacto (…). 

Lembro-me daquele dia como se tivesse sido horas atrás. Minhas pernas ficaram bambas e meu coração disparou. Para mim, eu estava em um sonho, ou melhor, pesadelo. Não queria acreditar no que estava acontecendo. Só de saber que desperdicei meus últimos momentos contigo… Ó meu amor, se soubestes o que eu daria para recuperar aqueles minutos. Se soubestes como me arrependo de não ter me entregado totalmente a você. De não ter lhe falado o como eu te amava… Eu só estava com medo meu amor, medo de entregar-me de alma e coração e depois perdê-lo. Mas do que adiantaste não é mesmo? Foi-se embora da mesma maneira e me deixaste aqui… Despedaçada. Me roubaste a vida. A vida me roubaste você e fez com que levasse meu coração junto a ti. Agora não resta-me nada. Somente meu cigarro, minha xícara de café - já vazia - e esta tua camisa amarrotada(…). 

segunda-feira, 9 de abril de 2012


Dança, “redança”, balança… Venha neste compasso da dança meu amor. Dois pra lá e dois pra cá. Guia-me por estas bandas. Conduza-me por esta vida. Seja o meu par, o meu amante, o meu amigo. Seja o meu homem. Venha cá meu bem, pegue-me nestes teus braços fortes e nunca mais me solte. Sussurre em meu ouvido que me amas, ou, que talvez continuará a dançar a próxima música comigo. 
Não seja bobo meu amor, não irá pisar em meu pé. Sei que não gostas de dançar. Sei que preferes ficar em casa de pernas para o ar, fazendo aquelas tuas palavras cruzadas que eu já não suporto mais. Mas venha comigo, siga os meus passos, pegue meus braços, rodopie-me para cima. Deixe-me sem ar, nestas esquinas escuras que só eu e você conhecemos. Deixe-me perder o compasso de meu coração com o teu perfume italiano. Mas não deixe-me esquecer os passos. 
Levante-se desse seu sofá empoeirado, levante-se dessa sua vida sem graça. Seja meu guiador por pelo menos esta noite. Seja meu, seja nosso. Sinta as batidas em seu coração, ou, apenas sinta o meu coração batendo por ti. Dança, “redança”, balança… Para que percamos o ar juntos. Para que tornemos este casal invejado que sabe dançar. Mas eu sei meu amor. Eu sei que será só por hoje. Mas, por hoje, somente por hoje, deixe com que eu sinta que sou sua.

segunda-feira, 2 de abril de 2012


O entardecer chegara mais depressa do que o normal. O vento está gritando enfurecidamente. Minhas persianas se debatem entre si. Estou sentada, com minhas pernas cruzadas, de frente para a janela e posso ver as pessoas correndo para suas casas com medo de que um temporal caia sob a cidade. Meu corpo está todo arrepiado devido ao frio. Frio.. algo que eu gostava de sentir. Não fui feita para o calor. Sol ardente, sentimento ardente. Não entendo muito bem disso […] Com o tempo fui percebendo tudo se congelando. Pessoas. Sentimentos. Eu. Coração. Já faz muito tempo que as pessoas pararam de sentir aquele fogo ardente, aquela paixão incontrolável. Faz tempo que deixaram de amar. Hoje o amor se tornou tão clichê - igual aquela frase quando alguém está fazendo aniversário: “Meus parabéns, tudo de bom na sua vida, que Deus te abençoe” - hoje você diz que ama todo mundo e todo mundo diz que te ama. Percebe a diferença entre dizer amar e amar? Esse diz-me-diz transformou o amor num sentimento tão falso, igual uma bijuteria barata. E depois me dizem que eu deveria sentir mais, que eu deveria amar mais. Digas-me vento, você que sussurra o sofrimento de todos aqueles que desabafam contigo… Vale a pena amar?