sexta-feira, 29 de junho de 2012

Dois caminhos

Sentada no banco da praça daquela cidade pequena e suja. Que horas deveriam ser? Já havia passado das duas da manhã, disso ela tinha certeza. O cigarro e o vinho barato eram suas companhias prediletas de uns dias para cá. Bebericou a garrafa de vinho que já estava quase no final, que quase não fazia mais efeito na menina de cabelos longos e negros dos olhos distantes. O cigarro em seus dedos formava uma nuvem de fumaça que dançava entre seus cabelos devido ao vento forte.


-- Não deverias estar andando tão tarde por esta rua sozinha. -- Ela pôde reconhecer a voz antes mesmo de encarar os olhos do magricela que a observava com o rosto divertido.
-- Não estou andando, estou sentada não vê? -- Revirou os olhos ao responder e fez uma careta enquanto ele gargalhava as suas custas e sentava ao seu lado.
-- Você é incrível.
-- Não o bastante para te fazer permanecer. O que queres Bruno? Apenas me deixe com minha bebida e meu cigarro. Pegue seu carro e vá. -- Responde amargamente.
-- Queres uma carona? Eu te levo, assim podemos conversar.
-- Não. Eu acabei descobrindo o caminho do inferno e prefiro chegar lá andando. -- As palavras doíam no momento em que estas eram pronunciadas. Ela não era rude, nunca havia sido, mas havia se apaixonado da pior maneira e isso custou toda sua inocência. 
-- Pare de agir como se não se importasse, pare de agir como se eu não tivesse efeito algum sobre você. -- Ela tirou os olhos do chão, permitindo encará-lo novamente. Ah… Aquele olhar.
-- E você não tem! Assim que você partiu Bruno levou algumas coisas minhas contigo, incluindo meu direito de sentir. Hoje não sinto, nem mesmo o frio das noites de inverno, nem mesmo o álcool que percorre em meu sangue. Eu nem me sinto mais. E eu que sempre achei historias de amor clichês.
-- Por acaso estás dizendo que me amas?
-- Não entendes? Estou dizendo que não sinto nada. Não mais…
-- Está repetindo isso para se convencer? -- A luz do luar iluminou teu rosto e ela pôde perceber sua expressão de deboche. 
-- Odeio quando faz esta cara. -- Ela bufa e revira os olhos. 
-- Qual cara? -- Ele pergunta apenas por diversão, pois já sabia a resposta. - Vamos lá Clara, nós sabemos o que você sente por mim. -- Sem esperar pela resposta dela ele segura sua mão. - Por que você mesmo não admite? 
-- Você não tem mais esse direito Bruno… -- Ela responde com os olhos lacrimejando. 
-- O que você quer dizer com isso? -- Bruno deixa sua expressão debochada de lado substituindo-a por uma expressão um pouco mais preocupante.
-- VOCÊ FOI EMBORA BRUNO. -- Agora ela começara a gritar, não aguentava mais toda esta falsidade por parte dele. Ele a deixara, sem explicações e agora ele voltara para bagunçar com tudo. -- Você não se explicou, não me deu o direito de lhe implorar para que ficasse ao meu lado. Simplesmente se foi. Então eu lhe digo que você não tem mais esse direito sobre mim. -- Ela tomou o restante do seu vinho barato e deu sua última tragada. 
-- Desculpe-me. -- Foi o máximo que Bruno pôde responder. Ela encarou seu rosto e sentiu sua garganta fechando, ela pôde ver em seus olhos que ele realmente sentia muito. Mas já era tarde demais. 
-- Eu sei disso. -- Ela passa a mão pelos seus cabelos bagunçados, se aproxima e lhe dá um último beijo. -- Mas isso não muda as coisas. -- Com os olhos cheios de lágrimas se levanta e segue seu caminho de volta para casa. 
-- Tem certeza que não quer aceitar aquela carona? -- Bruno pergunta se levantando, torcendo para que a resposta seja sim. 
-- Vamos deixar para uma próxima vez… -- Ela responde por cima do ombro. 
-- Clara? -- Ele grita ansioso, querendo tê-la por mais alguns minutos ao seu lado. 
-- Sim? -- Ela se vira e o encara. 
-- Eu… Eu te… 
-- Eu sei. - Ela o interrompe. -- Eu também.

Bruno sabia que havia perdido qualquer oportunidade de ter aquela mulher novamente em seus braços. Ele se arrepende cada segundo por tê-la deixado. O motivo? Nem ele mesmo sabia… Talvez ele estivesse com medo de se apaixonar, mas mal sabia ele que já estava apaixonado. Clara por um lado estava despedaçada por ter perdido o homem que amava, duas vezes. Mas por outro, estava orgulhosa de si mesmo por não ter deixado com que Bruno a fizesse mudar de ideia, afinal ele era sua única fraqueza. Dito isso, ambos seguiram seu caminho. Caminhos opostos que talvez os obrigassem a viver separados um d’outro. Talvez… 

Texto em parceria com a linda da Lins

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Perdida


As luzes da cidade se apagaram, o silêncio tornou-se um grito irritante para os meus ouvidos. Poderia ficar horas e horas nesta madrugada, embebedando-me de cafeína. Mas preferi deitar-me em meu travesseiro e deixar com que meus pensamentos voem para longe e de que minhas lágrimas escorram pela minha face. Há tanto dediquei o meu amor para você, somente para você, ciente de que eu poderia estar doando-me demais sem precisão. Vi-me presa nesta areia movediça que me puxa cada vez mais para baixo, deixando-me sem ar o suficiente para respirar. Impedindo-me de mover-me, de lutar, de gritar, de pedir ajuda. Ajuda para resgatar-me. Porque estou a perder-me novamente. Perder-me de você. Perder-me de mim. Perder-me de nós. E eu já não aguento mais tantos desencontros. Então talvez, eu continue andarilhando por estas esquinas escuras, tentando achar alguma saída por estas ruas embriagadas. Quem sabe, talvez, eu encontre uma saída deste meu mundo tão obscuro. Mas, com a sorte que tenho, está saída irá me levar para você novamente, como todas as outras me levaram. E então eu continuarei presa… Nesta rua, nesta esquina, nesta areia movediça, tentando desvencilhar-me de meu destino. Tentando desvencilhar-me de você.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Querido tempo...


- Moça..moça! Por favor, será que poderia me informar as horas? 
Ergui minha cabeça, tirando toda a atenção de meu livro, e me deparei com um belo homem de cabelo todo desgrenhado, vestido de social e dono de um dos melhores olhos cor de mel que eu já havia visto […]
- Está com pressa? 
- Na verdade, um pouco - ele sorri meio sem jeito. 
- Para onde vai? 
- Poderia apenas me informar as horas? - ele responde secamente. 
- Não. 
- Não?
- Não. 
- E porque não? 
- Porque tens pressa.
- Não entendo. 
- Ninguém entende. 
Voltei a atenção para o meu livro, dando a entender que o assunto acabara. O tal moço permaneceu em minha frente inquieto por alguns segundos - três no máximo - e se distanciou atordoado. Passado alguns minutos, o tal moço de cabelo desgrenhado senta ao meu lado.
- Voltou? - Perguntei sem tirar à atenção de meu livro.
- Voltei
- Não estava com pressa?
- Estava.
- E para onde foi parar essa sua pressa?
- Em uma garota cujo os olhos são pretos, um preto intenso que dá medo. Parece que ela não gosta muito de gente apressada. E queria saber o porque, por isso voltei. - Ele encara meu rosto, fazendo com que eu fique enrubescida.

(Fecho meu livro e o encaro com intensidade.)

Gosto de observar. Gosto de quem observa. Gosto de perceber a simplicidade das coisas, a naturalidade da cidade, os detalhes.. E a pressa... Bem, a pressa não presta. 
- Entendo. Mas porque deduziu que eu não sou um observador?
- Porque eu te vejo todos os dias passando por este parque, correndo contra o tempo, ofegante, apressado […]
- Me vê? 
- Vejo. 
- Eu também te vejo. Sentada todos os dias neste mesmo banco, perdida no tempo, na história de seu livro. Você chega aqui por volta das sete da manhã, respira fundo e sorri, seu sorriso é lindo por falar nisso. E essa já é a quinquagésima vez que você vem neste parque e se senta neste mesmo banco e você sempre traz uma maçã junto a ti e a come por volta das nove da manhã e joga as sementes para os pássaros […]
- Como você sabe disso tudo? - Pergunto com os olhos arregalados de surpresa, abobada.
- Porque eu te observo menina. Te observo todos os dias. E é por isso que eu sempre me atraso.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Eu sem você


Hoje a escuridão me dominaste por inteiro. Cada parte do meu corpo doía de saudades, cada vez que meu coração batia ele me machucava por dentro. Hoje, senti-me como se precisasse de você para tonar-me completa novamente. Não... Não apenas hoje. Todos os dias. A cada instante, a cada minuto, a cada segundo. Sinto que necessito de sua risada pela madrugada, ou de suas piadas sobre o meu cabelo ao amanhecer. Preciso da quentura de sua pele aquecendo cada parte do meu corpo e de seus dedos acariciando os meus cabelos durante a noite. Preciso de ti e de mais ninguém. 

Ó amado, esta minha vidinha estás tão bagunçada sem você aqui para ajeitá-la. Parece que sem você tudo perde o sentido. Sem você, eu não sou a mesma. Pelo menos não aquela que gostaria de ser. Meus amigos andam reclamando comigo dizendo-me que ando muito amargurada, irritada, triste... Mal sabem eles que todos estes sintomas é devido à sua causa. Ou melhor dizendo, é devido a sua falta. A falta que me fazes quando tudo está silenciado, a falta de sua voz ecoando pelas paredes de minha casa, a falta de seus braços envolvendo-me durante à noite. 

Mas não estás mas aqui não é mesmo anjo? Partiste de minha casa, partiste de minha vida, partiste meu coração. E a única coisa que faz-me lembrar de ti são estas paredes inquietantes que guardam nossos sussurros durante à noite. Estas são as únicas lembranças que posso agarrar-me com precisão, porque fora a única coisa que deixaste. A única coisa que esquecera de levar contigo. E é durante a noite, que estas paredes insistem em transformar estes nossos sussurros em gritos, fazendo-me lembrar que estou sozinha. Que não estás mais aqui. 

Por favor, não penses que gosto de sentir-me assim, sozinha, assustada, dependente... Antes de fazer parte de minha vida eu não precisava de ninguém, eu não dependia de ninguém, apenas de mim mesma e agora veja o que fizeste comigo. Cá estou eu, na madrugada de uma quarta-feira qualquer, espremida em minha cama, sentindo minha lágrimas escorrendo pelo o meu rosto, sentindo a sua falta. Sentindo a falta de nós. Sentindo a falta da forma que eu me sentia enquanto estávamos juntos. Sentindo a falta da pessoa fria e calculista que eu era antes de você aparecer. E agora, olhe bem pra mim, me transformaste nesta garotinha sensível que fica pelos cantos chorando por um amor perdido.

Proteja-me

Venha meu amor
Diga-me que não existem monstros. 
 Por mais que estes estejam debaixo de minha cama.
Diga-me que terei uma boa noite de sonhos
Por mais que estes se transformem em pesadelos. 
Mas não me importo meu amor. 
Venha balançar-me em teus braços. 
Venha cantar-me uma canção de ninar
Venha desejar-me uma boa noite
Só venha....
Proteger-me! 


domingo, 3 de junho de 2012

Luanda (Parte3)

Nota: Antes de começar a leitura, dê uma lida neste texto e neste para compreender toda a história.





“Tique-Taque-Tique-Taque” [...] Neste silêncio ensurdecedor o único som que prevalecia era o “tiquetatear” do relógio. A cama estava desarruma e o Sol clareava todos os cômodos de minha casa. Sua camisa ainda estava jogada n’um canto qualquer de meu quarto, amarrotada, virada do avesso. Sua palavras foram amorosas porém enfraquecedoras. Enfraqueceram-me. “Perdoe-me Fernanda, não é mais um caso de amantes. Somos eu e você. E devemos continuar assim. Adeus” O sorriso que aparecera em meu rosto logo quando eu acordara, desaparecera em questões de segundos. Aliás é apenas isso que se leva. Segundos. Segundos para ler uma carta de despedida e segundos para ver sua vida se despedaçando.


Eu fora assim tão iludida? Nosso caso de amor não teve importância alguma? Apenas um caso de amor? Um caso de amor. Isso está errado, deveria ser O caso de amor e não apenas mais um. Aliás éramos eu e ele. Éramos nós. Não deveria acabar desse jeito, ele não deveria ter se despedido desse jeito, ele não deveria ter me deixado. Não hoje, não de novo […] Minhas mãos estavam trêmulas e meus olhos ardendo de tanto chorar. Ontem à noite havia sido tão especial, tão reconfortante. E ele conseguira acabar com tudo em questões de segundos. Alguém por favor me digas qual é o meu problema? Por que, depois de tanto tempo, eu ainda continuo encantadoramente, desesperadamente, enlouquecidamente, apaixonada por ele? Por que, depois de tantas decepções, ele ainda continua sendo Minh ‘alma gêmea? 

Isso não poderia… Eu não poderia… Ele não poderia.. Nós não poderíamos acabar assim. Não desse jeito. Não depois de termos provados para nós mesmo que ainda podemos continuar juntos. Que ainda poderíamos ter um caso de amor verdadeiro […] Apesar das mãos trêmulas disco com facilidade seu número de telefone. Não importa o que aconteça, não importa o que ele fale, eu ainda continuarei insistindo e não… Eu não vou desistir de nós, não até ele parar de me amar. 

— Olá. — A voz fala do outro lado da linha. Meu coração para por alguns segundos e minhas respiração se enfraquece. Havia esquecido os efeitos que sua voz me causa.
— Lucas, Lucas, você não pode…
— … Aqui é o Lucas, no momento eu não posso lhe atender. Você já sabe o que fazer não é mesmo? — O sinal da caixa eletrônica apitou, meus joelhos cederam e bateram com uma força extrema no chão. Senti minha boca ficar seca e meus pensamentos se embaralharem por alguns segundos… 
— Você não… Você não deveria ter feito isso comigo Lucas. Não deveria ter me deixado desse jeito, esperançosa. Se não fosse para ser, não teria sido, mas foi. Fomos eu e você, fomos nós. E continuaremos sermos. Não importa suas tentativas idiotas de tentarem me provar ao contrário. Eu acredito em nós e você também terá que acreditar. Quem sabe um dia… Enquanto isso eu vou continuar me martirizando, conversando com a sua secretária eletrônica. Eu não tenho mais medo Lucas, eu lhe juro que não tenho. Sou somente sua, assim como você continuará sendo somente meu. Por favor, pare de lutar contra este sentimento, para de lutar contra mim porque, de agora em diante, eu vou começar a lutar por você. Eu te amo.