sábado, 31 de março de 2012

Luanda (Parte2)

Nota: Antes de começar a leitura, dê uma lida neste texto para compreender toda a história.
Já estava anoitecendo e, pela primeira vez, em tanto tempo, consegui aproveitar o meu dia para fazer algo para mim, apenas para mim. Não consigo me lembrar a última vez que sai de casa para fazer compras, ou tomar o meu café da manhã naquela minha cafeteria preferida. Nos últimos dias, ou melhor, nos últimos meses, eu vivia de comida congelada e de roupas do ano passado. Mas, há duas semanas atrás, fui libertada de todas as minhas angustias e incertezas. Há duas semanas atrás eu pude dizer em alto e bom som que ele me amava (…) Servi-me de uma boa taça de vinho - um vício que eu havia adquirido há alguns meses - liguei o meu toca disco e afundei-me em meu sofá. A campainha soou e, por um momento me irritei por ter que me desfazer de toda àquela paz. Levantei-me e fui até a porta […]


(Silêncio) 

- Olá Fernanda. - Lá estava ele, com sua calça jeans preta surrada, sua camiseta azul Royal - minha predileta - pois esta destacavam teus olhos azuis - teu cabelo estava todo desgrenhado, com alguns fios jogados em sua testa. E teu sorriso torto. Ah… aquele sorriso…
- Lu…Lucas? O que está fazendo aqui? - Idiota! Será que você não consegue ter uma conversa sem gaguejar? 
- Estava pela vizinhança. - Ele disse sem graça. - Posso entrar? 
Abri o caminho para que ele pudesse entrar. Meu coração estava em disparada e minha boca totalmente seca. Fiz um sinal para que ele se sentasse em meu sofá e assim o fez. 
- Vejo que continua com esse seu hábito. - Disse olhando para a taça de vinho. Droga! Esqueci-me desse vinho. 
- Sim, continuo. Sei que não gostas, mas o vinho me acalma. - Disse sentando-me em uma cadeira de frente para o sofá. 
- Não estou te julgando Fernanda, não tomo mais as decisões por ti, não faço mais parte da tua vida. - Errado! Até parece que você não sabe que todas as decisões que tomo é pensando em você, pensando se você aprovaria e o que diria para mim caso fizesse alguma coisa estúpida. É você quem decide se meu coração continua a bombear o sangue em meu corpo ou se ele desiste de tudo e “morre”. Você está errado Lucas, completamente errado. Porque você é a minha vida. 
- Eu sei disso Lucas. Não estava tentando me explicar nem nada… Aliás, para que você veio mesmo? 

(Silêncio) 

Tamborilei meus dedos na escravinha de madeira e dei um gole em meu vinho. Vi teus olhos sendo guiados pela taça até a minha boca e pude perceber a irritação dele vindo à tona. 

- Lucas? O que você está fazendo aqui? - Disse tirando sua atenção de meu vinho. 
- Como eu disse. Estava pela vizinhança. 
- Apenas isso? 
- E me deu uma vontade imensa de te ver. - O que ele queria dizer com isso? 
- Bem.. Cá estou eu, viva, com o coração batendo e a pele ainda quente. Já me viu não é mesmo? - Disse levantando-me. 
- Por que você está falando desse jeito? - Perguntou intrigado. 
- Porque você não faz mais parte da minha vida, lembra-se? - Desviei o olhar para o meu toca disco que há pouco havia deixado de tocar aquela melodia tão dramática. Ele se aproximou e me obrigou a olhar para ele.
- Não diga isso Fernanda, por favor. Eu não posso, ou melhor, eu não quero mais fazer parte da tua vida. Não quero que você fique pelos cantos, sonhando comigo, com nós. Eu só… Eu só não quero mais.
- Então me beija. - Disse atordoada, jogando as palavras com força contra ele. Ele, por outro lado, me olhou sem jeito, hesitante. - Será que você não percebe? Eu sou sua, completamente sua e, querendo ou não, você sempre será meu. Não podes negar isso Lucas…
- Fernanda… 
- Cala a boca Lucas. - Disse interrompendo-o. - Você sabe disso. Sabe o quanto eu te amo e como eu te desejo todos os dias. - Ele desviou seu olhar e deu um passo para trás. Lhe obriguei a olhar para mim novamente e pressionei meu corpo contra o dele. - Me beija Lucas. E se você ainda quiser viver desse jeito, separados, eu vou entender. Mas, se por algum acaso… 

E ele me beijou. Minha respiração parou de repente e minhas pernas amoleceram. Ele me segurou pela cintura e me jogou no sofá. Ele me beijava com intensidade, seus lábios em sincronia com os meus, sua língua a procura da minha, suas mãos pelo meu corpo, como se já conhecesse cada parte dele. Seus lábios passearam pelo meu corpo, ora em meu pescoço, ora em meu busto, provocando-me arrepios. Ficamos assim até o amanhecer, dois corpos se transformando apenas em um. Duas pessoas, loucamente apaixonadas, provando para elas mesmas que um ainda pertencia ao outro. 

quinta-feira, 29 de março de 2012

Amado (Parte2)

Nota: Antes de começar a leitura, dê uma lida neste texto para compreender toda a história.




Olá meu querido amante!

Como andas? Venho lhe perguntado a mesma coisa em todas as cartas que te mando, mas pareces que resolveste ignorar-me pois estou aflita. Aflita pelo fato de não ter tido mas nenhuma notícia tua, aflita por ainda sentir minhas mãos suarem sempre que penso em ti, aflita por ainda sentir minhas lágrimas escorrerem durante à noite, aflita por ainda te amar. Eres um baita de um egoísta amado! Não consigo entender porque não me respondeste, porque insiste em fingir que não existo. Por algum acaso estás com raiva de mim? Lembra-se de quando dizia-me que eu era forte? Que eu conseguiria aguentar tudo? Pois erraste amado. Não sou tão forte quanto parece, não sou tão forte para aguentar esta distância que aperta o peito. 


Não sei mais o que dizer, nestas cartas clichês que lhe envio, para fazeres mudar de ideia e aparecer. Nem que seja para dizer-me que continua com o coração batendo, mesmo que ainda não seja por mim. Por falar nisso amado, encontraste outra pessoa? Este fora o motivo de sua partida? É por este motivo que não me dá notícias? Estás fazendo tudo errado... Prefiro saber da verdade, mesmo que esta me doa o coração e embrulhe meu estômago. Preciso ter a certeza de que estou livre para seguir a minha vida, para seguir a minha vida sem você. Já se passaste tanto tempo amado, e cá estou eu, implorando pela sua atenção. Implorando para envolver-me em teus braços e dar-me um beijo na testa. Cá estou eu implorando para que me ame novamente. 


O que acontecer amado? Por acaso sua família não aceitara o nosso relacionamento? Parece absurdo eu sei, mas também sei que fostes visitá-los e jamais voltara. Amado, sei que minha palavras se tornaram repetitivas demais, mas depois de tantas cartas não sei mais o que dizer, não sei mais sobre o que pensar, ou quais argumentos usar para fazeres mudar de ideia e voltar para os meus braços. Desculpe-me se estou sendo insistente demais querido amado, mas está dúvida anda atormentando-me à noite. Se visses as olheiras que eu adquirira, se visses como estou, literalmente, exausta entenderia o porquê disso tudo. 


Por favor querido amado, liberte-me de você!
Com amor, 
Caroline


quarta-feira, 28 de março de 2012

Incompleta.

Sinto-me sem chão, sem céu, sem vida… Incompleta seria a palavra certa. Tento por vezes, várias vezes, tentar agir como uma pessoa qualquer, daquelas que se encontra por ai, nestas calçadas esburacadas. Mas como juntar estes meus pedacinhos sendo que foi eu mesma que os despedaçou? Estou sentindo-me tão dependente de alguém… Mas não esses alguém que são banalizados por estes textos aleatórios e sim “aquele” alguém para dar-me carinho e chocolates, na tentativa de curar-me dessas dores insuportáveis. Não estou a procura de amantes para causar-me frio na barriga e sim de um amigo para livrar-me dessa escuridão. Goto de denominar-me “obscura”. Não por viver constantemente na escuridão e sim por depender desta para trazer meus sentimentos à tona. Tento livrar-me deste clichê imundo que tornou-se parte destes versos. De algum modo, tento diferenciar-me daquilo que conhecemos por “comum”. Em vão… Já que, cá estou eu, escrevendo estes versos absurdos reclamando por não fazer parte deste mundo tão clichê. 

Liberdade


“Voe, voe para longe. 
Ó meu bem, sinta.
Sentiu? Sinta novamente [..]
Ó vento, sussurre outra vez,
Para que eu possa sentir. 
Esperança? Liberdade?
Pouco sei.. Mas deixe.
Deixe com que eu sinta.
Outra vida.
Outro alguém.
Outro eu.
Voe, voe para longe.
Para outro lugar.
Me deixe voar.
Me deixe viver. “

domingo, 25 de março de 2012

O amor nunca envelhece.



Sentada no chão de minha sala, reviro meu armário a procura de um objeto. Não muito grande, nem muito pequeno. Mas que se perdeu nesta imensa escuridão em meio a bagunça. Comecei a ficar desesperada, não podia acreditar que havia perdido a única coisa que me ligava ao meu passado, ao nosso passado […] Ali, bem ali no fundo. No canto direito do armário, embaixo de uma caixa de sapato velha estava aquela caixinha de mármore que me destes logo depois de partir. Há tempos não mexia nela, estava toda empoeirada e já demonstrava ser velha. Porém suas cartas continuavam intactas dentro dela, as folhas estavam um pouco amareladas confesso, mas não alterava no conteúdo da carta […] 


Dezessete de Novembro de mil novecentos e oitenta e seis. […] Esta casa sem dúvidas é linda. É um tipo de casa que eu sonho para o nosso futuro, três quartos, cozinha, sala de estar e sala de jantar, a mobília é um pouco antiga. Mas sinto-me um tanto quanto sozinho dentre essas paredes, sem sua risada ao amanhecer ou seus cabelos se esfregando em meu rosto enquanto dormimos. Desde quando me mudei não converso com meus pais, apenas um bom dia, boa tarde e boa noite. Não consigo perdoá-los por ter me separado de minha alma gêmea. Por ter me separado de você […]


Vinte e um de Dezembro de mil novecentos e oitenta e seis. Não consegui me levantar da cama hoje devido ao frio. Me lembrei de você, sei como gostas do frio, de bater queixo, de se enrolar na coberta… Eu, por outro lado, prefiro o Sol brilhando. Mas é como dizem minha princesa, os opostos se atraem, mas nunca me falaram da parte que eles se separam. Se soubestes a falta que me faz. Ah meu amor se soubestes […]


Doze de Janeiro de mil novecentos e oitenta e sete. 
Hoje foi a primeira vez, em mais ou menos três meses, que falo com meus pais. Não foi uma conversa amigável confesso, mas já é alguma coisa não é mesmo? Minha vida começou a caminhar este ano, só queria que você estive caminhando junto comigo. Fiz um amigo pela redondeza e adivinhas? Ele também tem um amor impossível assim como o nosso. Faz-me falta, cada segundo, cada minuto do dia […]

Causa-me um aperto no peito ler estas tuas palavras. Ainda não descobri um amor tão puro e verdadeiro como o nosso. Lembro-me de nossas promessas, de quando sentávamos na beira do lago apenas para observar o pôr-do-sol… É incrível como tudo se perde em um piscar de olhos não é mesmo? Em meio a tantas cartas encontro a última que me mandaste, cada palavra esta marcada em meu coração, em minha mente […] 


Vinte e quatro de Setembro de mil novecentos e noventa e três.
Meu amor, antes de mais nada quero que saiba que nem por um momento deixei de pensar em você. Mas sei que não temos um futuro juntos. Estou lhe mandando esta carta para liberar-te de suas amarras junto a mim. Quero que sigas tua vida assim como estou seguindo a minha. Não, eu não encontrei uma outra pessoa, cá entre nós que jamais encontraria alguém como você, mas precisamos seguir em frente. Só não se esqueça que eu te amei e que daria o mundo para ver uma última vez o teu sorriso […] 

Parei de ler a carta pois, assim como todos que começassem a leitura, saberia como esta carta acabaria. Lembro-me exatamente do dia que a recebi, não chorei, não fiquei brava, muito menos pensei que ele havia me enganada por tanto tempo. Ao contrário, fiquei feliz porque ele me concedera liberdade. Tanto eu quanto ele sabíamos o quanto um significava para o outro, sabíamos de como o nosso amor havia sido sincero, ainda é. Já se passaram oito anos desde o meu último contato com ele e não teve um dia, nesses oito anos, que eu não tenha pensado nele…

terça-feira, 20 de março de 2012

Luanda (Parte1)


Já passava das duas da manhã. Lá fora a chuva caía incansavelmente desde às sete da noite. E eu? Bem… Eu estava na companhia da minha taça com um pouco de vinho e com os barulhos causados por causa da chuva. Minha mente estava viajando, pensando em todas as coisas que eu deveria ter dito para você ou as coisas que eu não deveria ter tido. Queria ligar para você, queria me desculpar por todas as vezes que fui uma completa idiota, mas já estava tão tarde… Provavelmente eu te deixaria com mais raiva ainda. Mas eu queria tanto ouvir tua voz falando o meu nome ou o seu tom de voz mais bravo. Pra mim, não importava que tipo de tom você usaria, se você falasse o meu nome… Ah, se você me chamasse pelo o nome […]

-- Alô? - Sua voz ressoou pelo telefone e por alguns segundos eu esqueci de como se respirava. Eu não sabia o que falar, não me preparei para esse momento. Queria apenas ouvir a sua voz e nada mais… 
-- Oi - Respondi baixinho.
-- Fernanda? É você? - Ele disse o meu nome.
-- Sim, Lucas, sou eu.
-- O que houve? Por que está me ligando essa hora? -- Porque eu queria ouvir a tua voz. Porque eu queria te dizer que te amo e que continuo sendo sua, mesmo você não sendo mais meu.
-- Não sei… Queria conversar - Covarde! Covarde! Covarde!
-- Ok -- Ficamos em silêncio por alguns segundos, que, para mim, pareceu uma eternidade. “Queria conversar” Conversar sobre o que Fernanda? Você por acaso é alguma idiota?
-- E sobre o que você quer conversar Fernanda? -- Ele disse meu nome... Seu tom de voz já não era o mesmo. O que eu acho um pouco óbvio já que eu ligo de madrugada apenas para jogar conversa fora. 
-- Ta chovendo sabia? -- Disse me desviando do assunto. 

(Silêncio)

-- No habitual eu não me incomodaria com essa chuva. Mas não sei se você se lembra…
-- Estava chovendo desse jeito quando eu te pedi em namoro… -- Ele me interrompeu.
-- E já faz um ano. -- Eu completei. 

(Silêncio) 

Eu não sei se posso julgar esse silêncio como algo positivo ou negativo. Aliás, nunca soube decifrar esse menino. Mas isso não importava. O que importava mesmo era que ele se lembrava. Se lembrava de nós, da chuva forte e do seu pedido de namoro. 

-- Você ainda está ai? -- Me perguntou trazendo-me à tona da realidade. 
-- Estou. Eu sinto a sua falta -- Droga, droga, droga! Eu não deveria ter dito isso. 
-- Eu também sinto a sua falta -- Ele sentia a minha falta…
-- Então por que ficou ausente por todo esse tempo Lucas? Por que me deixou pensar que eu não era mais importante para você? Eu passo horas e horas pensando em ti… 
-- Fernanda, não faz isso. Por favor -- Ele me interrompeu novamente.
-- Fazer o quê Lucas? É tão difícil assim me explicar?
-- É Fernanda, é! Que droga! Será que você ainda não entendeu? Eu te amo, eu te amo mais do que eu deveria amar. Me arrependo todos os dias por ter te deixado. Mas não dá certo. Eu e você… Nós não fomos feito um para o outro, será que você não entende isso? -- Ele disse que me amava… Ele disse que me amava… Nada mais importa. Ele me ama.
-- Eu sei - Disse por fim. Eu sabia de tudo isso, só não queria acreditar - Eu também te amo Lucas.
-- Não se esqueça disso Fernanda. Não se esqueça do meu amor por você. 
-- Não me esquecerei. Lucas… Tchau.
-- Tchau Fernanda - Continue na linha por alguns segundos, numa tentativa idiota de ouvir a respiração dele. Por fim coloquei o telefone no gancho e fui dormir com um sorriso no rosto. Ele me amava. Ele disse que me amava […]

segunda-feira, 19 de março de 2012

Eu, apenas eu!

O céu hoje estava cinzento. A neblina era perceptível as seis da manhã. O chão estava úmido devido as gotículas de água que caíram durante a madrugada. O parquinho logo em frente estava deserto, mais a balança insistia em se balançar sozinha. Lá na cozinha a chaleira apitava, avisando-me de que a água já estava quente e me servi de uma boa caneca de chá. Resolvi então, sentar-me naquela balança, que tanto pedia para ser balançada. O vento soprava forte e o chá aquecia meu corpo, que estava praticamente nu, provocando-me arrepios. Nunca havia parado para observar a beleza das seis e quinze da manhã, era tudo tão calmo, tão simples, tão natural, como se não precisasse de nada para tornar-se belo, acho que essa é uma das qualidades da natureza, simplicidade […] Engraçado não? Vivo há tempos neste mesmo lugar e ainda consigo me surpreender com algumas coisas. Pois bem, acho que sempre serei surpreendida. O Sol jazia há um bom tempo, mas somente agora começara a brilhar. Senti-me em paz, aliviada, como há muito não sentia. Queria sorrir para o vento, sussurrar meus segredos, gritar os meus medos. Queria colocar tudo o que eu estava sentindo aquele momento para fora, mandar meus temores para longe de mim, uma carta direcionada para o mundo. Eu precisava não sentir. “És pequena demais para decidir algo assim, és incompleta demais para não sentir.” Meu coração insistia em me provar do contrário, queria que eu amasse, que eu sentisse. Mas mal sabia ele que eu amava, mas amava demais. Sentia, mas sentia demais. E eu precisava de um tempo comigo mesma, precisava me amar mais. Havia deixado muito de mim ser esquecido, cada pedacinho, cada detalhe mínimo, estava amontoado em uma estante, toda empoeirada. Eu precisava me recuperar, recuperar este meu brilho, este meu sorriso, essa minha paz (…) O chá esfriara, assim como os meus sentimentos, e de agora em diante meus sentimentos só irão se aquecer novamente se for para sentir algo por mim mesma, apenas.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Amado! (Parte1)

Amado, leia as batidas de meu coração…

Cá estou eu, escrevendo-te novamente. Não me perguntes o porquê, já que não me respondestes as últimas cinco cartas que lhe enviei, mas preciso de alguém, preciso de você. Como estás? Sei que esta é uma pergunta retórica e que pouco lhe importa responder com sinceridade, mas insisto… Como estás? Lembro-me de te ter feito prometer que se cuidaria, você prometeu e preciso saber se está cumprindo com esta promessa. Bobeira minha não? Pensar que cumpriria alguma promessa, já que todas as que me foram feitas você as quebrou.

O que aconteceste contigo amado? O que fora feito de nós dois? Nossos sonhos, nosso futuro já premeditado, nossas tardes de invernos abraçados… Ainda não entendo porque se fora amado. Tínhamos tanta alegria, tanta paixão, tínhamos uma vida pela frente, uma família a ser construída (…) Não deverias ter partido. Partido para longe. Partido de minha vida. Partido meu coração. Deverias estar cuidando de mim amado, pois estou toda remendada com uma linha de decepção, outra de tristeza e uma agulha de amargura costuram este meu pobre coração, que nem pensa mais em bater, ou melhor, só pensa em bater por ti. 

Lembra de minhas palpitações? Sinto falta delas. Sinto falta do teu sorriso, do teu abraço, de sua voz doce sussurrando que me ama. Sinto falta de me sentir sem chão todas as vezes que encarava teus belos olhos negros, são tão hipnotizantes (…) Amado, por mais que me doa, quem é a dona de seus sorrisos? Sei que convivi com este teu sorriso cheio de paixão por anos, mas ainda não me acostumei a viver sem ele, aliás, ainda não me acostumei a viver sem você (…).

Escrevo-te com uma dor no peito e olhos cheios de lágrima, amado. Sei que deveria estar seguindo em frente, já faz um ano certo? Mas algo me diz que eu devo persistir em nós. Éramos tão felizes, como se fossemos feito um para o outro. Sei que posso mudar, mudaria por você meu amor, se isso te trouxesse para meu lado novamente. Por favor, amado leia esta carta e sinta a dor que estou sentindo. Peço-lhe que volte para mim, volte para meus braços. Volte, apenas volte. Porque eu preciso de você.
Com amor,  
Caroline.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Salve-me

Estávamos apenas eu e vocês, sentados em uma mesa empoeirada daquele bar de estrada. Parecíamos dois desconhecidos, como se tivéssemos nos conhecido naquele exato instante. Nada dizíamos, nem sequer nos olhávamos olho no olho. Você perguntou ao garçom qual era a bebida mais forte que ele poderia lhe oferecer e eu fiquei apenas com a minha água com gás bem gelada. Como de costume começamos a discutir, sempre que você se irritava despejava sua ira em um copo com qualquer tipo de bebida alcoólica. Ficamos ali por mais alguns minutos até nos cansarmos de fingir que estava tudo bem. Ambos sabíamos que estávamos sendo ridículos. Sabíamos que daqui algumas horas estaríamos entrelaçados em uma cama de motel barato, daqueles que encontramos na beira da estrada, mas nenhum de nós dávamos o braço a torcer. Éramos dois filhos-da-puta orgulhosos. Saímos daquele bar e insisti para que ele deixasse com que eu dirigisse. "Neste carro somente eu dirijo". disse embaralhando as palavras. Não gostava disso, de quando ele dirigia embriagado, mas já fizera isso tantas vezes que não me importe. Ao contrário recostei um pouco o meu banco e adormeci. Quando acordei tudo estava muito confuso, não estávamos mais na estrada e ele não estava mais ao meu lado dirigindo. Ao invés disso, ele estava em uma cama de um hospital qualquer lutando pela tua própria vida. Enquanto eu, me culpava imensamente por não termos acabado entrelaçados em uma cama de motel barato.

Purifica-me

“A chuva estava severa esta tarde. Indesejável por várias pessoas que foram pegas de surpresa e que corriam de volta para suas casas. Eu, por outro lado, havia desistido de correr. Queria sentir as gotas d’água escorrendo pela minha pele, provocando-me arrepios devido a gelidez e a brutalidade como estas batiam em meu ombro. Segui meu rumo escorando-me por estes muros desta rua tão fria e, de certa forma, deserta (…) Cheguei em meu destino, confesso que demorei um pouco mais do que o habitual, mas, do mesmo jeito não senti a minima vontade de entrar por àquela porta. É absurdo demais, mas aquela chuva estava mais convidativa do que meu próprio lar. “Tome um banho bem quente para não pegar um resfriado” a voz de mamãe ressoava pela minha mente. Quem se importava com um mísero resfriado? Estava amuada, cabisbaixa. Sentei-me naquela calçada úmida e senti novamente a brutalidade das gostas d’água e sussurrei: “Ó doce chuva, levas embora todo este medo e angústia. Lava-me em todos os sentidos, corpo e alma. Alma e coração”. E as lágrimas se misturaram com as gostas d’água…”

quarta-feira, 14 de março de 2012

Eu vos declaro...


Às sete horas da manhã o Sol brilhava como se já fosse meio dia. Guilherme podia sentir os raios solares penetrando pelo teu corpo, gotas de suor rolava pelo seu rosto, suas mãos estavam suando frio e rugas de preocupação aparecia pelo seu rosto. Estava a poucos minutos de transformar toda a sua vida. Estava com medo… Não, hesitado seria mais apropriado. Havia levantado tão cedo, pra falar a verdade, não conseguira dormir à noite inteira, por isso desistiu de tentar. Foi até o quintal de sua casa e tentou colocar seus pensamentos em sintonia com o seu coração. De agora em diante tudo seria tão diferente, sem dúvidas essa não era a vida que Guilherme havia imaginado para si mesmo. Encheu seus pulmões com o ar quente que estava lá fora e tomou coragem para fazer o que tinha que fazer [...]. 


Seus lábios estavam entreabertos e sua respiração se transformara em um som gostoso e leve. Seu peito inchava e desinchava conforme ela respirava e seus fios de cabelo moldavam perfeitamente o travesseiro. Suas pálpebras tremeram dando espaço a duas esferas negras brilhosas. Ela me encarou com paixão.


-- Vou começar achar que eres um maníaco Guilherme. - Disse se espreguiçando e com um sorriso perfeito no rosto. 
-- Um maníaco que é louco por ti. Faz sentido. -- Ela deu uma risada baixa e se sentou. - Gosto de acordar ao seu lado pela manhã. -- Confessei.
- Gosto de acordar ao seu lado pela manhã. -- Ela sorriu e lhe deu uma beijo na bochecha. -- Guilherme entrelaçaram suas mãos e a encarou com amor.
-- Não me incomodaria em acordar todos os dias ao seu lado Beth.
-- Tampouco eu meu amor. Vou me mudar amanhã para cá. -- Seu tom era um tom de deboche.  Não que ela não gostaria de morar com Guilherme é que as vezes essa ideia se torna um tanto quanto absurda… 
-- Estamos juntos a quanto tempo… Dois anos? E sinto que nos conhecemos há mais de dez anos. Você se tornou minha confidente durante todo esse tempo, resgatou-me da escuridão e tornou-me um homem melhor. Quando eu penso no futuro Beth, é isso que eu vejo. Eu e você. 
-- O que você está querendo dizer com isso Gui? - Uma lágrima escorreu pelo seu rosto e ele pode sentir seu coração batendo mais rápido.
-- O que eu quero dizer Beth é que eu te amo. -- Curvou-se sobre o corpo dela para alcançar a escrivaninha e abrir a gaveta. Retirou de lá uma caixinha minúscula de veludo e encarou o rosto de Beth sorrindo…
-- Gui…. - Ela suspirou. Suas lágrimas começaram a escorrer incansavelmente pelo seu rosto e suas mãos estavam trêmulas. 
-- Eu te amo tanto, tanto Beth. Não tenho dúvidas sobre isso. Não tenho dúvidas sobre você, sobre nós. A única coisa da qual eu tenho dúvidas é se conseguiria viver sem você ao meu lado… Elizabeth Bianchini Alves, aceita se casar comigo e me fazer o homem mais feliz do mundo?

Para onde foi o brilho?

Ela observava o céu com tanta firmeza que seus olhos começaram a arder. Essa imensidão azul era seu passatempo favorito. Dona da verdade, dona do seu próprio mundo, dona de seu destino, imaginava-se sendo guiada pelas as estrelas. Mas o que haveria de tão misterioso nelas? Não sabia... Mas se perguntava se alguém notaria o sumiço de uma única estrela, sendo que haveria tantas para tomar o seu lugar quando esta partisse?


— O que vês de tão especial nessas estrelas? -- Perguntou o homem sentado ao lado.
— Não vejo nada! Mas ainda sim vejo tudo. -- Respondeu sem desviar os olhos do céu. 
— O que queres dizer com isso?


Ela apenas fechou seus olhos e deu de ombros. Se imaginou sentada em uma dessas coisinhas brilhosas, conversando com outras coisinhas brilhosas. Ficou imaginando como seria a vida delas? Ali, naquele único cantinho, paradinhas, brilhando. Ela queria perguntar: “Pra onde vocês vão quando surge o Sol? E quando a tempestade chega?” Essas perguntas não tinha sentido algum, mas para ela fazia toda a diferença... Seria bom viver assim, pensou. 


— Elas brilham! Todos os dias à noite, elas não se cansam. Mas… Eu não sei lhe dizer, elas me intrigam.
— Deixe de besteira. É apenas uma estrela.
— São…
— Como disse?
— São estrelas. Uma imensidão de coisinhas brilhosas habitando uma outra imensidão azul. Elas passam horas e horas sozinhas, apesar de estarem n’um conjunto, mas continuam brilhando. Continuam sendo essas coisinhas brilhosas instigantes. Não estou lhe pedindo para que admire as estrelas. Mas não lhes tire seu brilho, por favor. 
— Calma, calma garota. Não estou querendo nada. Só estou querendo que essa conversa acabe. 
— Mas esta conversa não tem um final. Nunca houve um começo para dizer a verdade. Estou só a observar.
— Mas porque tanta observação garota? Queres se transformar numa estrela por um acaso? 


Ela ficou calada por um tempo, pensando no que aquele homem acabara de dizer. Será que ela queria ser uma estrela?... 

— Obrigada!
— Pelo o quê? 
— Acabaste de desvendar este meu enigma.
— Então é isso? Queres se transformar numa estrela?
— Não. Quero continuar sendo eu mesma. Sem muito brilho, sem muito destaque. 
— Por que?
— Para quê tanto brilho? Para quê tanta demonstração de felicidade se tampouco sorri? Se tampouco se é libertada para a vida? Prefiro continuar aqui quietinha. Sem brilho algum. Sem felicidade ao extremo. Mas mostrando para todos quem sou de verdade. Sem exibições. Sem egoísmo. 
— Mas o que te leva a pensar que as estrelas não são felizes?
— Porque ninguém, assim como você, presta atenção nelas. Apenas em seu brilho. Mas nunca para o que elas verdadeiramente são. 

terça-feira, 13 de março de 2012

Aqui jazia...



-- Moça, desculpe-me, mas já estamos fechando. 


Caroline não estava preparada para enfrentar a realidade, por mais obscuros que seus pensamentos fossem, preferia continuar absorta.


-- Desculpe-me. -- Pegou uma nota de cinco reais e entregou ao tal moço que insistia em expulsá-la. -- Fique com o troco. -- Disse. 


Olhou para o relógio e nele indicava que já havia passado das onze da noite. A noite inundava cada pedacinho destas esquinas. O movimento das ruas já se desfazia, dando lugar para aqueles que nem casa tinham. Pensou por um momento deitar ao lado deles, por mais frio que estava essa noite eles pareciam sentir-se confortáveis e aconchegados. Mas de imediato esquivou-se deste pensamento dando a entender que jamais poderia sentir-se confortável, pelo menos não com todos esses sentimentos florescendo dentro dela.


-- Moça, deixaste cair seu anel...-- Achava que poderia aliviar este peso que estava sentindo livrando-se deste anel estúpido e idiota. Idiota era ela. 


Seus pés a direcionavam para o lugar que causara tanta dor nestas últimas vinte e quatro horas, sabia que não poderia continuar se esquivando desse destino tão cruel e injusto. Suas lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto, tentou obrigá-las a continuarem em seu devido lugar. Acreditava que chorar não adiantaria de nada, chorar, não traria de volta o seu amor [...].


Para o seu azar o horário de funcionamento já havia passado e, para a sua sorte o muro era baixo, então pulou. "Que linda dama sou, invadindo uma propriedade privada" pensou. Começara a chorar novamente, dessa vez não se deu ao trabalho de detê-las, estava se aproximando do inevitável, de algo que poderia acabar com a sua vida, isto é se esta já não está acabada. 


Ficou perdida por um tempo, mas caminhou pacientemente pelos corredores, ou melhor, labirintos. Dona Lúcia já havia passado todas as informações necessárias para achar o túmulo. Seus joelhos cederam rapidamente, suas lágrimas já escorriam por vontade própria. Queria acariciá-lo, queria beijá-lo, mas sabia que só sentiria o gosto do mármore. Seu túmulo estava rodeado por flores e fotos de seus familiares, seus dizeres estava em uma letra um tanto quanto ‘chamativa’ : Lucas de Moura 1986 - 2009 (Deu alegria àqueles que não sentiam graça da vida. Mudou àqueles que estavam perdidos. Sempre com um sorriso no rosto.) Um filho e um marido inesquecível. Descanse em paz.

-- Eu construiria um túmulo para ficar eternamente ao seu lado meu amor. Desculpe a demora para lhe visitar. -- Seus olhos se encheram de lágrimas e sua garganta fechou voluntariamente. Tirou o seu anel e o apoio  no túmulo. -- Descanse em paz meu homem. Eu te amo.