terça-feira, 13 de março de 2012

Aqui jazia...



-- Moça, desculpe-me, mas já estamos fechando. 


Caroline não estava preparada para enfrentar a realidade, por mais obscuros que seus pensamentos fossem, preferia continuar absorta.


-- Desculpe-me. -- Pegou uma nota de cinco reais e entregou ao tal moço que insistia em expulsá-la. -- Fique com o troco. -- Disse. 


Olhou para o relógio e nele indicava que já havia passado das onze da noite. A noite inundava cada pedacinho destas esquinas. O movimento das ruas já se desfazia, dando lugar para aqueles que nem casa tinham. Pensou por um momento deitar ao lado deles, por mais frio que estava essa noite eles pareciam sentir-se confortáveis e aconchegados. Mas de imediato esquivou-se deste pensamento dando a entender que jamais poderia sentir-se confortável, pelo menos não com todos esses sentimentos florescendo dentro dela.


-- Moça, deixaste cair seu anel...-- Achava que poderia aliviar este peso que estava sentindo livrando-se deste anel estúpido e idiota. Idiota era ela. 


Seus pés a direcionavam para o lugar que causara tanta dor nestas últimas vinte e quatro horas, sabia que não poderia continuar se esquivando desse destino tão cruel e injusto. Suas lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto, tentou obrigá-las a continuarem em seu devido lugar. Acreditava que chorar não adiantaria de nada, chorar, não traria de volta o seu amor [...].


Para o seu azar o horário de funcionamento já havia passado e, para a sua sorte o muro era baixo, então pulou. "Que linda dama sou, invadindo uma propriedade privada" pensou. Começara a chorar novamente, dessa vez não se deu ao trabalho de detê-las, estava se aproximando do inevitável, de algo que poderia acabar com a sua vida, isto é se esta já não está acabada. 


Ficou perdida por um tempo, mas caminhou pacientemente pelos corredores, ou melhor, labirintos. Dona Lúcia já havia passado todas as informações necessárias para achar o túmulo. Seus joelhos cederam rapidamente, suas lágrimas já escorriam por vontade própria. Queria acariciá-lo, queria beijá-lo, mas sabia que só sentiria o gosto do mármore. Seu túmulo estava rodeado por flores e fotos de seus familiares, seus dizeres estava em uma letra um tanto quanto ‘chamativa’ : Lucas de Moura 1986 - 2009 (Deu alegria àqueles que não sentiam graça da vida. Mudou àqueles que estavam perdidos. Sempre com um sorriso no rosto.) Um filho e um marido inesquecível. Descanse em paz.

-- Eu construiria um túmulo para ficar eternamente ao seu lado meu amor. Desculpe a demora para lhe visitar. -- Seus olhos se encheram de lágrimas e sua garganta fechou voluntariamente. Tirou o seu anel e o apoio  no túmulo. -- Descanse em paz meu homem. Eu te amo.

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