quinta-feira, 21 de junho de 2012

Querido tempo...


- Moça..moça! Por favor, será que poderia me informar as horas? 
Ergui minha cabeça, tirando toda a atenção de meu livro, e me deparei com um belo homem de cabelo todo desgrenhado, vestido de social e dono de um dos melhores olhos cor de mel que eu já havia visto […]
- Está com pressa? 
- Na verdade, um pouco - ele sorri meio sem jeito. 
- Para onde vai? 
- Poderia apenas me informar as horas? - ele responde secamente. 
- Não. 
- Não?
- Não. 
- E porque não? 
- Porque tens pressa.
- Não entendo. 
- Ninguém entende. 
Voltei a atenção para o meu livro, dando a entender que o assunto acabara. O tal moço permaneceu em minha frente inquieto por alguns segundos - três no máximo - e se distanciou atordoado. Passado alguns minutos, o tal moço de cabelo desgrenhado senta ao meu lado.
- Voltou? - Perguntei sem tirar à atenção de meu livro.
- Voltei
- Não estava com pressa?
- Estava.
- E para onde foi parar essa sua pressa?
- Em uma garota cujo os olhos são pretos, um preto intenso que dá medo. Parece que ela não gosta muito de gente apressada. E queria saber o porque, por isso voltei. - Ele encara meu rosto, fazendo com que eu fique enrubescida.

(Fecho meu livro e o encaro com intensidade.)

Gosto de observar. Gosto de quem observa. Gosto de perceber a simplicidade das coisas, a naturalidade da cidade, os detalhes.. E a pressa... Bem, a pressa não presta. 
- Entendo. Mas porque deduziu que eu não sou um observador?
- Porque eu te vejo todos os dias passando por este parque, correndo contra o tempo, ofegante, apressado […]
- Me vê? 
- Vejo. 
- Eu também te vejo. Sentada todos os dias neste mesmo banco, perdida no tempo, na história de seu livro. Você chega aqui por volta das sete da manhã, respira fundo e sorri, seu sorriso é lindo por falar nisso. E essa já é a quinquagésima vez que você vem neste parque e se senta neste mesmo banco e você sempre traz uma maçã junto a ti e a come por volta das nove da manhã e joga as sementes para os pássaros […]
- Como você sabe disso tudo? - Pergunto com os olhos arregalados de surpresa, abobada.
- Porque eu te observo menina. Te observo todos os dias. E é por isso que eu sempre me atraso.

2 comentários:

  1. Nossa, Uanna, que texto bonito!
    Gostei muito, especialmente desse finalzinho.
    Algumas pessoas chamam a nossa atenção de tal forma que perdemos a noção do tempo.
    Tentar um contato com essa pessoa perguntando pelo tempo perdido é uma ótima abordagem, rs.

    Belo texto. Andei sumido por uns tempos, mas vou voltar a visitar os blogs de que gosto. Tenha um bom domingo. Beijo.

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  2. Hey, Uanna. Adorei seu blog.
    A forma como escreve é muito sincera e clara. Fico feliz que em meio a minha procura desordenada de blogs e tumblrs eu tenha encontrado o seu. Vou segui-lo, aliás.
    Tenho um blog também, está convidada a dar uma passada por lá se quiser.
    http://mandyandtany.blogspot.com.br/
    Beijão, flor.

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Obrigada pela visita e por terem me lido. Volte sempre!