- Moça..moça! Por favor, será que poderia me informar as horas?
Ergui minha cabeça, tirando toda a atenção de meu livro, e me deparei com um belo homem de cabelo todo desgrenhado, vestido de social e dono de um dos melhores olhos cor de mel que eu já havia visto […]
- Está com pressa?
- Na verdade, um pouco - ele sorri meio sem jeito.
- Para onde vai?
- Poderia apenas me informar as horas? - ele responde secamente.
- Não.
- Não?
- Não.
- E porque não?
- Porque tens pressa.
- Não entendo.
- Ninguém entende.
Voltei a atenção para o meu livro, dando a entender que o assunto acabara. O tal moço permaneceu em minha frente inquieto por alguns segundos - três no máximo - e se distanciou atordoado. Passado alguns minutos, o tal moço de cabelo desgrenhado senta ao meu lado.
- Voltou? - Perguntei sem tirar à atenção de meu livro.
- Voltei
- Não estava com pressa?
- Estava.
- E para onde foi parar essa sua pressa?
- Em uma garota cujo os olhos são pretos, um preto intenso que dá medo. Parece que ela não gosta muito de gente apressada. E queria saber o porque, por isso voltei. - Ele encara meu rosto, fazendo com que eu fique enrubescida.
(Fecho meu livro e o encaro com intensidade.)
- Gosto de observar. Gosto de quem observa. Gosto de perceber a simplicidade das coisas, a naturalidade da cidade, os detalhes.. E a pressa... Bem, a pressa não presta.
- Entendo. Mas porque deduziu que eu não sou um observador?
- Porque eu te vejo todos os dias passando por este parque, correndo contra o tempo, ofegante, apressado […]
- Me vê?
- Vejo.
- Eu também te vejo. Sentada todos os dias neste mesmo banco, perdida no tempo, na história de seu livro. Você chega aqui por volta das sete da manhã, respira fundo e sorri, seu sorriso é lindo por falar nisso. E essa já é a quinquagésima vez que você vem neste parque e se senta neste mesmo banco e você sempre traz uma maçã junto a ti e a come por volta das nove da manhã e joga as sementes para os pássaros […]
- Como você sabe disso tudo? - Pergunto com os olhos arregalados de surpresa, abobada.
- Porque eu te observo menina. Te observo todos os dias. E é por isso que eu sempre me atraso.
Nossa, Uanna, que texto bonito!
ResponderExcluirGostei muito, especialmente desse finalzinho.
Algumas pessoas chamam a nossa atenção de tal forma que perdemos a noção do tempo.
Tentar um contato com essa pessoa perguntando pelo tempo perdido é uma ótima abordagem, rs.
Belo texto. Andei sumido por uns tempos, mas vou voltar a visitar os blogs de que gosto. Tenha um bom domingo. Beijo.
Hey, Uanna. Adorei seu blog.
ResponderExcluirA forma como escreve é muito sincera e clara. Fico feliz que em meio a minha procura desordenada de blogs e tumblrs eu tenha encontrado o seu. Vou segui-lo, aliás.
Tenho um blog também, está convidada a dar uma passada por lá se quiser.
http://mandyandtany.blogspot.com.br/
Beijão, flor.